quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Modelagem e o outro como reflexo

     O post anterior teve como norte as explicações de Marcos Brasil sobre a PNL propriamente dita, este post se norteia na mesma entrevista, porém, com foco apenas no que diz respeito à Modelagem. Para melhor compreensão fizemos algumas associações e citamos: tanto da Poética de Aristóteles como alguns filmes que evidenciam o quanto um ser humano pode ser modelado, e a partir dessa modelagem  gerar  crenças que nos acompanham pelas nossas vidas.

Pela virtude, o homem imita a ordem natural em que se realiza aquilo que, de potência, deve ser o ato. A diferença reside em que, por natureza (portanto, por essência), a saúde é o que faz realizar-se o salutar, ao passo que o homem deve produzir o fim e, para tanto, escolher igualmente os meios apropriados. Essa busca do bem, que é aquilo a que se dirige toda ação, é seu fim, a finalidade sobre a qual cumpre deliberar. Daí o papel da razão, consiste exatamente em escolher os fins e proporcionar-se (literalmente) os meios. (ARISTOTELES, 2000, p.36)

Fazendo uma ressalva pertinente nesta linha de pensamento: em “Arte Poética”, de Aristóteles, menciona-se que o homem desde cedo imita. Esse ato ocorre instintivamente e podemos percebê-lo na arte, na poesia e na escrita, ou seja, nas manifestações expressivas do ser. A tendência para imitar é instintiva no homem desde a infância, como assinalou Todorov, localizando a mimesis no 4º estágio do desenvolvimento do ser humano, que se distingue de todos os outros seres por sua aptidão muito desenvolvida para a imitação.
Um exemplo interessante ocorre no filme Greystoke - A Lenda de Tarzan (1983), em que o casal de aristocratas ingleses sai em busca de novos territórios. O casal sobrevive a um naufrágio e instala-se em uma cabana feita no meio da selva. Após alguns meses, a mulher que estava grávida, dá a luz um menino e, dias depois, vem a falecer. Paralelo a isso, um casal de gorilas que vive próximo à cabana, perde o seu filhote. A mãe gorila sofre com a perda. Os gorilas invadem a cabana, matam o recém-viúvo e pegam o bebê humano.
Fonte: http://www.bandejadeplata.com/wp-content/uploads/2014/06/tarzan2.jpg
O bebê humano passa a ser filho adotivo do casal de gorilas. E nessa experiência de vida, suas percepções sensoriais (visão, audição, tato, paladar, olfato) são desenvolvidas de acordo com o meio no qual ele está inserido. Anda como um gorila, grita, emite sons, grunhidos, manifesta seus sentimentos tal e qual seus pais gorilas. Ou seja: ele é exatamente o outro, o reflexo do que seus sentidos puderam captar. Esta foi a sua experiência de realidade, a concretude que entrou para seu cérebro por meio de seus sentidos, criando assim um mundo da representação, um mundo imaginário. Tempos depois, percebe que não há semelhança física entre ele e seu colega de infância, bem como entre si e seus pais gorilas, e o desenrolar da história prossegue até que o homem-macaco encontra-se em meio à civilização.
Outro interessante exemplo para demonstrar como somos seres modeláveis é o filme O Enigma de Kaspar Hauser, que viveu acorrentado num porão sem nenhum contato com os seres humanos. Havia apenas um homem que o alimentava. Certo dia, esse homem soltou Kaspar próximo a uma cidade. A partir daí, as pessoas da cidade tentaram inseri-lo na sociedade, mas como ele não havia desenvolvido os processos cognitivos básicos, sua rede neural não se estruturou.
Ao ser abandonado por seu cuidador, podemos dizer que Kaspar era como uma folha de papel em branco. As pessoas que o encontraram tentaram inseri-lo na sociedade, escrevendo uma história de vida, decidindo por ele, moldando o seu triste destino.
Fonte: http://cinemarcocriticas.blogspot.com.br/2011/08/o-enigma-de-kaspar-hauser.html
Há ainda o caso das Meninas Lobo, Amala e Kamala, que foram encontradas em 1920 na Índia e levadas a um orfanato para serem humanizadas.

De forma clara, os exemplos mencionados mostram que somos modeláveis. Enquanto crianças, não temos escolha, nascemos e crescemos com uma família, em um meio social já existente e recebemos sua forte influência, vamos nos adaptando, acreditamos e copiamos o que ouvimos,vemos e percebemos. O outro se reflete em nós, mas temos capacidade de mudar. Nossa rede neural e estruturas de pensamento são desenvolvidas com base nas nossas experiências e, ao criarmos experiências novas, carregadas de emoção, enfraquecemos as antigas. Isso vale para pessoas que cresceram dentro de uma civilização, diferentemente das Meninas Lobo, posto que as redes neurais que se formaram nelas eram de um meio selvagem, sem a presença de humanos.
Gosto sempre de mencionar uma frase de Sartre que diz: “O mais importante de tudo não é o que fizeram de você, mas o que você vai fazer com o que fizeram de você!”. Isso porque na fase adulta devemos nos questionar sobre as crenças e educação que nos foram impostas, devemos refletir sobre até que ponto pensar e/ou agir de determinada maneira pode nos prejudicar.
  De acordo com a PNL, como explica Marcos Brasil em sua entrevista mencionada no post anterior, podemos escolher quem vamos modelar e formar novas crenças, novas formas de pensar. Então, se há algum aspecto da sua vida que você gostaria de mudar, mas não sabe como, procure um modelo, ou seja, procure quem já alcançou o que você gostaria de alcançar. Saiba como isso foi feito e modele essa pessoa, percorra o mesmo caminho que ela percorreu e tenha certeza que novas estruturas se farão, um novo comportamento surgirá.
Todas as crenças que temos são frutos de processos de modelagem que fizemos ao longo de nossas vidas. Muitas vezes, essas crenças podem ser limitantes e nos impedir de alcançar nossos objetivos. A PNL vem justamente nos dar subsídios para que possamos detectar e modificar essas crenças.


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